7 de abril de 2024

Capitalismo Malvadão

 


Sendo hoje um punk velho, cresci ouvindo punks e outras pessoas com o viés de esquerda falarem muito mal do capitalismo. Nunca entendi isso. No caso do punk, havia quem reclamasse de bandas que assinavam com multinacionais. Uma incoerência atrás da outra, mas sobre o punk pensar de forma errada já escrevi aqui.

Quero me ater a essa bobagem de se dizer contra o capitalismo. Fico perplexo em ver, por exemplo, artistas de todas as áreas dizerem isso. Hipocrisia ou falta de conhecimento? Além deles, há um monte de intelectuais acadêmicos fajutos que vivem em uma bolha onde só conhecem o assunto que pesquisam, e que também gostam de falar mal do capitalismo. Mas são os primeiros a reclamar dos salários e a buscar alternativas de renda. Isso cansa.

No caso da música, o mercado fonográfico (independente ou não) é um ato capitalista.

Ter sua banda é um ato capitalista, assim como gravar seu disco e alugar estúdio para ensaiar.

No caso da literatura, lançar um livro é um ato capitalista.

No caso das artes cênicas, o teatro e o cinema são atos capitalistas.

No caso das artes plásticas, a exposição e a vernissage são atos capitalistas.

Alugar teatro é um ato capitalista.

Ter equipamento para fazer um filme ou documentário, é um ato capitalista.

 

Capitalismo malvadão!

 

No dia a dia, entrar no mercado é um ato capitalista; entrar no salão de beleza é um ato capitalista; ir à um show é um ato capitalista; ir a um restaurante é ato capitalista.

Entrar na concessionária e escolher um carro para comprar é um ato capitalista.

Escolher lojas para comprar roupas é um ato capitalista.

Ir à uma farmácia é um ato capitalista.

Comprar absorvente de sua escolha é um ato capitalista.

Escolher pasta de dente ou sabonete é ato capitalista.

Escolher o seu xampu é um ato capitalista.

Escolher sua profissão é um ato capitalista.

Estudar em ensino privado é um ato capitalista.

Ter plano de saúde é um ato capitalista.

Escolher para onde vai viajar nas férias é ato capitalista.

 

Capitalismo malvadão!

 

Escolher um filme para assistir no cinema é ato capitalista.

Comprar um disco é ato capitalista.

Escolher o dentista é ato capitalista.

Escolher onde estudar é ato capitalista.

Escolher onde morar é ato capitalista.

Fazer uma tatuagem  é ato capitalista.

Entrar no Facebook, no Instagram, no YouTube ou em qualquer outra rede social é um ato capitalista.

Usar internet é ato capitalista!

 

Capitalismo malvadão!

 

Nascer pobre e ter a oportunidade de melhorar de vida é um ato capitalista.

Ser bilionário e perder tudo é um ato capitalista.

Poder exercer diferentes atividades profissionais é um ato capitalista.

Poder ter mais de um emprego é um ato capitalista.

Escolher o modo como se quer viver é um ato capitalista.

Ir à padaria para escolher pães, frios, leites, doces é um ato capitalista.

Ser empreendedor(a) é ato capitalista.

Ter sua ME ou MEI é ato capitalista.

Ter opções é ato capitalista.

A individualidade é um ato capitalista.

Ter oportunidades é ato capitalista.

 

Capitalismo malvadão!

 


21 de fevereiro de 2024

A Nova Era do Consumo de Música

Quando o Napster chegou, veio para revolucionar a música definitivamente. O que ele fez com a indústria fonográfica foi muito mais do que possibilitar a troca de músicas pela internet.

A forma como consumimos música hoje é consequência de tudo o que ele fez. Veio o Soulseek, MySpace, MP3 e outras novas formas de colecionar discos e músicas até, finalmente, chegar às plataformas como Spotify, Deezer, ITunes, e outras tantas dezenas delas.

Depois de muito tempo se chegou a uma forma do artista e das gravadoras ganharem dinheiro com esse novo formato digital. Ainda existe a opção de se conseguir tudo de graça, mas pra quê e por quê?

Sou de uma geração que pagou duas vezes gravadoras e artistas pela compra do vinil e depois novamente pela compra do CD. Tudo formato físico. Agora pagamos pelo digital.

Deste formato o que sinto falta são das informações técnicas dos discos. De resto, não tenho do que reclamar. Tenho em minhas mãos todas as discografias de todos os artistas do mundo! Minha coleção (biblioteca) do Spotify tem mais discos do que tive em toda minha vida, juntando vinil, CD e o que consegui no Napster e Soulseek.

Meus vinis (era uma coleção de se invejar), vendi tudo; meus CDs o guarda móveis onde estavam guardados sumiu com eles, mas não tenho esse apego físico. Certa vez, em um programa que eu fazia no Multishow chamado Urbano, conversei com um ex-Ministro do Governo FHC - isso em 2007/08 - e ele me disse que haveria um tempo que não teríamos nada disso no formato físico. Nós da equipe não conseguíamos imaginar essa situação, e hoje vivemos isso.

Acho ótimo não ter mais discos, fitas cassetes e de vídeo, CDs e DVDs ocupando espaço da casa. Também não sou um puritano que fica cheio de “nove horas” dizendo: “mas o arquivo digital não tem os graves do vinil”, “o som não é fiel ao que está registrado no vinil”, “é tudo muito agudo”, “parece radinho de pilha” e mais um monte de blá blá blá.

É apenas uma nova opção. Ainda hoje tem gente que compra e escuta vinil, CDs e fitas cassetes, e essas pessoas não deixam de escutar o formato digital também.

Mas o motivo deste texto não é esse, mas sim o novo - e infinito - horizonte que se abriu na indústria musical com essas plataformas de música digital. Eu uso Spotify (não é propaganda) desde 2021, quando meu IPod pediu arrego. Entrei tardiamente e ainda agora, início de 2024, estou maravilhado e perdido com tantas opções, nesse horizonte absurdamente extenso.

Todo dia escuto artistas, discos e músicas novos.

Não sei você, mas procuro não só os meus óbvios que estão no coração desde pequeno, mas artistas e discos que não tive acesso nas décadas de 70, 80 e 90 por falta de grana e por prioridade, que era o rock.

A chegada do CD no Brasil coincidiu com a abertura para produtos importados. Comprei muito CD que eu não tinha em vinil, além das edições especiais, com faixas adicionais, que as gravadoras começaram a lançar (já que no formato compacto tinha mais espaço que o vinil).

Vieram Napster e Soulseek e, com eles, muitas gravações piratas ou raras até então ainda não lançadas nessas edições especiais.

Agora, com as novas plataformas, juntou tudo: o vinil (remasterizado), as edições especiais em CD dos anos 90/2000 + as gravações piratas / alternativas trocadas na rede + material inédito. Dentro de qualquer gênero musical você encontra edições “super deluxe”, “special deluxe”, “special edition”, entre outros nomes.

Eu, que sempre gostei de soul music e soft rock e aproveitei bem a fase “baixar músicas”, agora me lambuzo com tantos artistas e discos novos que surgiram pra mim, pro meu gosto. Ter a disposição toda a discografia de Stevie Wonder, Temptations, Aretha Franklin, Marvin Gaye é algo indescritível.

Encontrei as clássicas coletâneas da série Red+Hot, todos os artistas da cena Rap-Jazz que sempre gostei e só tinha acesso a alguma coisa nos tempos da MTV como A Tribe Called Quest, Arrested Development, Guru, Soul II Soul, Digable Planets…

Também faço imersões com tudo o que gosto, e todas essas edições “ultra mega super special plus champignon ship” que existem. Seja Ramones ou Talking Heads, seja Stones ou Beatles, Husker Du ou R.E.M., é infinito o número de gravações e músicas inéditas disponíveis.

Agora um álbum, EP, single é lançado e escutamos na hora!

Já ouvi discografias inteiras de dezenas de artistas: Stevie Wonder, Paul McCartney, Willie Nelson, Temptations, Nat King Cole, Billie Holiday, King Crimson, Madness, Isaac Hayes, Curtis Mayfield (e The Impressions). A lista é interminável.

No momento em que escrevo este texto (fev/24) estou na saga da discografia de dois artistas: Paul Weller (ex-The Jam) e Candi Staton. Somando as duas, são mais de 30 discos. Esse tipo de coisa eu jamais poderia fazer nos tempos da mídia física porque não teria dinheiro pra isso. Mas agora é realidade. Tenho tudo!

Ouço Durutti Column desde 1985 e, até a chegada do Napster, eu só tive 4 discos e algumas músicas em fitas cassetes.

Essas imersões em diferentes artistas são excelentes. Eu fico empolgado todo dia com tanto disco novo pra escutar. Não digo “novo” de ter sido lançado hoje, mas novo pra mim, discos antigos e clássicos que agora posso ouvir.

Eu não sei como você usa o seu aplicativo de música, mas sei que faço do meu, literalmente, uma viagem! Aliás, várias viagens!

PS: Além de tudo isso há o fato de se ter de volta a velha sensação de fazer coletâneas como nos tempos da fita cassete, nos 70 e 80, só que agora chamadas de playlist. Me divirto e já fiz quase 40 delas (inclusive do blog).