25 de junho de 2025

O Quanto Você Aproveita a Música Hoje?

O consumo de música sofreu mudanças rápidas e radicais a partir do CD (compact disk). Antes disso, o vinil e as fitas cassetes reinavam, e tinha artistas e executivos de gravadora que não gostavam de fitas cassetes, porque uma pessoa comprava o disco e outras 20 o gravavam. Era assim que funcionava e, mesmo deste modo, zilhões de discos eram vendidos.

Durante um período dos anos 1990 que durou poucos anos, mais ou menos entre 1993 e 1997, o CD conviveu com a fita cassete, até chegar o diskman e o rádio-CD para o carro (não mais o rádio toca-fitas). Foi época de abertura econômica, então era fácil comprar aqui CDs importados, mas não deixavam de ser caros. 

Mas seja com vinil ou com CD, não era fácil consumir a música que você gostava porque, mesmo tendo a possibilidade de gravá-los e também de fazer coletâneas, as fitas eram caras e não dava pra poder ter tudo o que queria. 

Mas, depois de sermos “obrigados” a comprar em CD tudo o que tínhamos em vinil e ver nossas fitas cassetes se tornarem obsoletas, eis que surge o bendito do Napster e muda tudo.  

No meu caso, primeiramente - e mais uma vez - refiz minha velha coleção de vinil, que depois virou coleção de CD, agora como minha coleção digital. Até eu ter um tocador de mp3, como todo mundo, eu passava para o CD as músicas digitais

Assim que refiz minha coleção, fui atrás dos discos desejados e nunca tidos. Junto a isso, mais um monte de gravações diferentes aparecia, como shows bem gravados, demos, gravações alternativas e muitas músicas que saíam nos “lado B” dos singles e que não chegavam aqui no Brasil por falta de formato. Em certas edições especiais em CD até tinham algumas dessas músicas no material extra, mas com Naspter, Soulseek e outros, essas gravações alternativas apareceram de monte. 

Eu, depois de todas as minhas urgências baixadas, parti para artistas que eu gostava, mas que não tinha como comprar disco ou gravar, exatamente porque as urgências eram outras. Isso aconteceu, por exemplo, com a soul music, que sempre gostei desde pequeno porque meus pais tinham alguns poucos discos mais conhecidos de Stevie Wonder, Aretha Franklin, Marvin Gaye, Isaac Hayes e mais um ou outro. Baixei a coleção inteira de todos eles e também procurei outros artistas pouco conhecidos aqui. Fiz isso também com os grupos de pub rock

Agora, com essas plataformas de música digital, você tem o suficiente para escutar ao menos um álbum novo por dia, mesmo que você comece com 10 anos e morra com 120. Eu me refiro à “álbum novo” como sendo trabalhos lançados décadas atrás, discos que você não conhece, nunca ouviu, e não só os lançamentos.  

Isso, pra mim, se acentuou mais ainda desde que passei a assinar uma dessas plataformas. Além de escutar, todos os dias, discos que eu nunca escutei na vida, voltei a me divertir fazendo as playlists que nada mais são como velhas coletâneas que fazíamos nas fitas cassetes. A diferença é que agora as coletâneas podem ter mais de uma hora. Eu tenho mais de 40 playlists. 

Além de não precisar se preocupar com o espaço físico, agora se tem acesso muito mais fácil até mesmo a artistas pouco conhecidos. Um costume que tenho é escutar discos solos de integrantes dos grupos que eu gosto. Por exemplo, escutei todos os discos solos dos integrantes dos Beatles: Paul McCartney, John Lennon, George Harrison e Ringo Star. Faço isso direto. 

Mesmo a música brasileira – sabemos que as gravadoras aqui são muito lerdas – tem um bom material nas plataformas. Falta muita coisa, mas já há gravações dos anos 1950 e da pré-Jovem Guarda.  

Em falar de material antigo, gosto muito da música gospel americana raiz, aquela que influenciou tudo que a gente escuta. Há gravações de arrepiar de corais das mais diversas igrejas cristãs. Blues, country, rock, pop... tá tudo ali. É a soul music em sua essência que inclui, inclusive, as canções que eram cantadas durante as colheitas de algodão

A minha lista de álbuns e artistas só aumenta a cada dia. Inclusive hoje, quando me perguntam se tenho coleção de discos e CDs, digo que não, que minha coleção hoje é o arquivo do Spotify.  

É muita música! São muitos álbuns!

13 de junho de 2025

O Rock Brasileiro no Spotify

De curiosidade fui dar uma olhada no número de seguidores dos principais grupos de rock e pop brasileiros. Claro que não fui atrás de todos, mas dos principais nomes de cada geração a partir da Jovem Guarda

A importância do artista tem ligação com o número de seguidores que ele tem?

Há números que me surpreenderam, números que me deixaram com a pulga atrás da orelha e outros que já imaginava.

Depois de ver esses principais nomes do rock, fui ver os principais nomes populares, não para comparar, mas para saber o nível de interesse do brasileiro e, claro, encontrei números absurdos, principalmente dessa nova música sertaneja que não tem muito a agregar na história da música brasileira apesar de tantos seguidores. Neste gênero, seja dupla ou cantores(as) individuais, os números chegam a mais de 16 milhões, e a média fica entre 8 e 13 milhões. Isso inclui, Luan Santana, Marília Mendonça, Lauana Prado e mais um monte de nomes que nunca ouvi falar. Digo isso sem querer depreciar, cada um ouve o que quer, mas todos sabemos que já há décadas a música brasileira, principalmente a mais popular, se nivela por baixo, muito baixo.

Se formos falar do lado mais tosco de nossa música, que é esse funk porcaria, a Anitta tem mais de 33 milhões de seguidores, outros MCs chegam a também mais de 10 milhões, mas a qualidade musical é, literalmente, a pior que se possa imaginar. Isso vai muito de encontro com a qualidade da nossa educação, que também é a pior de todos os tempos.

A verdade verdadeira é que a qualidade atual da nossa música, independente do gênero, está no pior nível desde que ela existe. Você escuta rock e sente vergonha, você ouve a MPB elitista ou a do povão e é uma vergonha alheia. Isso me fez lembrar até de um show da Anitta em pleno Dia Internacional das Mulheres e ela lá rebolando o traseiro tatuado como um típico objeto sexual de baixa qualidade.

Mas indo, finalmente, para o rock e o pop, me surpreendeu ver que Charlie Brown Jr. é o maior nome do gênero em termos numéricos, com 7,6 milhões de seguidores. O que mais me surpreendeu mesmo foi ver que O Rappa tem 4,1 milhões, mesmo não sendo o principal nome de sua geração. Inclusive, em relação à geração 90, esses dois nomes, mais o do Skank, com 4,3 milhões são os maiores dessa cena também conhecida como Geração MTV. Desses três nomes, o Skank é o que teve a carreira mais constante de shows e álbuns, sem parar, desde que surgiu bem no início dos anos 1990 até parar no final de 2019.

Na sequência, vêm empatados Raimundos e Jota Quest com 2,7 milhões. Engraçado é que são trabalhos opostos: enquanto um faz um punk rock e hardcore com a safadeza do forró sacana, o outro faz um pop limpo romântico e pra toda família. Falo isso também sem querer depreciar, mas só pra mostrar mesmo o contraste sonoro dos dois grupos. JQ faz pop de qualidade e gosto bastante das linhas do PJ.

Os números iguais desses dois nomes mostram a força que o Raimundos tem. Enquanto Jota Quest, que também tem uma carreira constante desde que surgiu, e participa de trilhas de novela e toca nas principais rádios do país, o Raimundos, com todos os problemas que teve, com a saída do Rodolfo, a volta para o underground, mudanças na formação, ainda assim é o 4º nome de sua geração.

(JQ, CBJr, Los Hermanos e CPM22 são dos anos 90, mas vieram depois da cena do biênio 1993-94)

Depois deles vem o CPM22 com 1,9 milhão, grupo que foi um dos últimos a ainda galgar um espaço a começar pelas fitas demo que passavam pelas mãos dos amigos e do underground, lançamento independente, até chegar ao mainstream. Em seguida vem Gabriel, O Pensador com significativos 1,3 milhões de seguidores. É de se espantar já que o grande momento do Gabriel aconteceu nos primeiros anos da década de 1990 (“Tô Feliz: Matei o Presidente”, “Retrato de Um Playboy”, “Lôraburra”). Gosto bastante do trabalho dele, é um dos melhores letristas de sua geração e faz o melhor discurso de protesto desde a Legião Urbana.

Surpreendeu negativamente ver que Chico Science e Nação Zumbi tem apenas 860 mil seguidores, isso juntando o perfil Chico Science (294,4 mil) com o perfil Nação Zumbi (565 mil). Na minha humilde opinião, de sua geração, foi o CSNZ quem trouxe algo realmente novo para a música brasileira, inclusive porque ele serviu de referência até para a velha MPB e ao menos meia dúzia de outros grupos surgiram na cola dele, mas sem qualquer originalidade.

A mesma coisa eu não falo de mundo livre s/a, que é o grupo dessa geração com menos seguidores, apenas 116,2 mil. Ao contrário do CSNZ, o mundo livre não foi uma grande novidade já que tem muita influência de Jorge Ben Jor, letras fracas e uma sonoridade nada especial. Ok, o primeiro álbum é legal, mas nada do outro mundo. Os números dizem tudo.

O Planet Hemp é algo bastante segmentado até porque o grupo é monotemático e só fala de maconha. Mesmo assim me surpreendeu com seus 435,8 mil seguidores. Nem tenho muito a dizer, já que além da falta de assunto, o grupo queria ser o Beastie Boys. O Planet era bem mais legal no começo, mas depois virou mais do mesmo e sem muita personalidade.

Por falar em personalidade, o Pato Fu tem de sobra. Musicalmente é um dos mais ricos de sua geração, mas o grupo peca demais nas letras, deixando-as de lado para privilegiar a melodia. Muitas delas sem sentido e isso não atrai o público. Apesar de também ter uma carreira constante, tem apenas 249,5 mil seguidores. Eu acredito que muito por causa disso, das letras fracas, já que o legal de escutar rock brasileiro é poder cantá-lo e… entendê-lo! Assisti a vários shows e gosto do grupo apesar disso. Sou fã também de Sexplícito (ou Sexo Explícito). John tem muita história.

Já na geração 80, os números são mais verdadeiros quanto à história de cada artista, tanto que o maior nome em termos de seguidores é Legião Urbana com 5,7 milhões.

Os números do RPM mostram que ele - como eu sempre disse desde que ele lançou o 1º disco - era apenas um grupo de sucesso efêmero: somente 878,6 mil seguidores. RPM é um grupo de um único repertório e com uma sonoridade também bastante efêmera. O Paulo Ricardo tem 742,7 mil e, pra mim, ele fez besteira em abandonar sua carreira de cantor romântico iniciada nos anos 1990 e que ia muito bem até ele resolver voltar com o RPM. Fez bobagem, mas esse abandono mostrou o quanto ele era frustrado com a carreira do seu grupo efêmero. Nem ele e nem Schiavon nunca foram compositores de mão cheia.

Os Paralamas do Sucesso - 4,6 milhões 
Cazuza - 3,8 milhões 
Titãs - 3,2 milhões 
Lulu Santos - 3,1 milhões 
Kid Abelha - 2,8 milhões 
Engenheiros do Hawaii - 2,7 milhões 
Capital inicial - 2,6 milhões 
Barão Vermelho - 1,8 milhão 
Nenhum de ós - 1,4 milhão 
Ira! - 1,4 milhão 
Biquini Cavadão - 967,2 mil 
Ultraje à Rigor - 492,6 mil 
Lobão - 372,4 mil 
Kiko Zambianchi - 352,1 mil 
Leo Jaime - 345,8 mil 
Plebe Rude - 311,6 mil 
Camisa de Vênus - 130,9 mil

Esses números explicitam algumas verdades, como o Camisa de Vênus com apenas 130,9 mil seguidores que mostra que o grupo nunca foi tão grande quanto Marcelo Nova prega por aí. Pelo contrário, o Camisa em nenhum momento da década de 1980 foi algo estrondoso, mas sim um grupo que lançou um bom 1º disco e só. O resto foi algo pontual, como a irrisória “Joana D’arc”. A cada lançamento, o grupo vendia menos. Inicialmente chamou a atenção pelo seu nome e por "Bete Morreu", isso em 1983, depois vieram outros tantos lançamentos que deixaram o Camisa pra trás.

Já o oposto acontece com o Engenheiros que sempre foi escanteado pelos grupos que se estabeleceram no eixo Rio-SP e pelos críticos “especializados”, mas que teve forte reconhecimento do público (que é o que interessa). Engenheiros, assim como Legião, tinha seus discos tocados inteiros pelas rádios e não à toa esta à frente do Capital Inicial que conseguiu 2,6 milhões de seguidores graças aos esforços do grupo após sua volta em 1998. Este número é resultado do que o Capital fez nos anos 2000 em diante, a partir do Acústico, e não é consequência de seu trabalho nos anos 80 que, assim como o Camisa, não era muito querido do público e da crítica. Após o 1º disco (seu melhor trabalho), o grupo também vendeu menos a cada lançamento.

Os 3,8 milhões de Cazuza certamente são fruto do que aconteceu com sua obra após sua morte, com a força da Globo, da ótima biografia lançada pela sua mãe e de seu filme. Digo isso porque durante seus anos de carreira ninguém ligava muito pra ele, pois as urgências eram outras, como Legião, Titãs, Paralamas, Engenheiros… Pouca gente estava interessada no discurso romântico do Cazuza e ele só ganhou notoriedade maior por causa das polêmicas em torno do HIV e da aids, infelizmente. Vi Cazuza duas vezes, uma ainda com o Barão e outra solo no Aeroanta (estreia da turnê Ideologia). A verdade é que ninguém ligava pro Cazuza até sua saúde começar a ruir e ele se tornar, por consequência, objeto de pautas duvidosas (como a famosa capa da revista Veja). Uma pena. Suas últimas gravações em estúdio foram feitas com ele deitado, por já não ter forças nem para aguentar seu frágil corpo. Um grande exemplo!

Um nome que me surpreendeu nesta lista foi o de Leo Jaime, mas muitos dos 345,8 mil seguidores tem ligação com suas participações em programas da Globo, como o Dança com Famosos. Longe de querer desmerecê-lo, mas sim sendo sincero, já que sua carreira nos anos 80 também não foi lá grandes coisas, apesar de alguns hits.

Olhei também os números dos principais nomes da Jovem Guarda e da geração 70:

Roberto Carlos - 5,9 milhões 
Rita Lee - 3,9 milhões 
Erasmo Carlos - 1,5 milhão 
Os Mutantes - 355,3 mil 
Jerry Adriani - 123 mil 
Os Incríveis - 115,6 mil 
Renato e Seus Blue Caps - 93,6 mil 
Golden Boys - 65 mil 
Wanderley Cardoso - 52,1 mil

Novos Baianos - 952,6 mil 
Secos e Molhados 799,8 mil 
Ave Sangria - 87,4 mil 
O Terço - 14,3 mil

Dessas listas têm Os Mutantes e Rita Lee que entram nas duas e me surpreendi com o número baixo dos Mutantes, pois achei que tivesse ao menos 2 milhões de seguidores já que o grupo é queridinho de todas as gerações e conhecido nos EUA e em alguns países europeus. Rita Lee, grandiosa, só perde para o rei Roberto Carlos, que é só um dos maiores compositores da música brasileira. Até achei que o rei fosse ter ao menos uns 20 milhões de seguidores.

Com relação aos outros nomes da Jovem Guarda, era de se esperar esses baixos números, já que ela foi uma cena isolada e não teve ligação com nenhuma outra cena roqueira brasileira. A JG foi um fenômeno efêmero e tipicamente sessentista e seus seguidores são, com certeza, velhos fãs. Gosto de muita coisa da JG, mas ela não interessa para a maioria dos fãs de rock brasileiro.

Em relação aos anos 1970, pouco se salva, já que foi uma geração marginal, com pouco espaço na mídia e muita desconfiança das gravadoras. Esses 4 nomes que listei (além de Rita e Mutantes) são os mais significativos em termos de números. Muitos outros grupos dessa geração sequer chegam a ter 2 mil seguidores. O Joelho de Porco, grupo ainda hoje bastante respeitado, ao menos tem 5.861 seguidores!

Os maiores nomes dessa década de rock psicodélico e progressivo eram Mutantes (já sem o artigo “Os”), O Terço e Rita Lee & Tutti Frutti. Eram eles quem mais lotavam shows, independente da cidade, e também os que mais vendiam.

Bem, pra ninguém dizer que sou preconceituoso, também dei uma passada de olho na geração pós anos 1990 (Ah! o Los Hermanos tem 2,4 milhões). Essa geração 2000 não considero como algo sério, mas sim como uma cena “café com leite”, até porque a qualidade dos grupos é extremamente ruim:


Pitty - 2,6 milhões
NXZero - 1,4 milhão
Restart - 598,2 mil
Supercombo - 591,9 mil 
Fresno - 438,3 mil
Strike - 388,8 mil
Forfun - 272,9 mil
Dead Fish - 139,5 mil
Cine - 133,1 mil

 

Pode me xingar por colocar o Restart e Cine junto com Dead Fish e Fresno, mas é que é tudo igual, tudo infantil, tudo muito bobo, muito clichê e de uma pobreza abissal. Lembro de uma amiga que vivia dizendo que Pitty nada mais era do que um livro tosco de autoajuda em formato de música.

Bem, como disse, eu não peguei TODOS os nomes, mas os mais significativos, os mais conhecidos e, com eles, dá pra se ter uma base da importância de cada um hoje. É bom lembrar que Legião, que lidera a lista da geração 80, é um grupo desativado desde 1996, ou seja, continua sendo o maior nome de sua geração e continua pagando as contas da EMI no Brasil.

15 de abril de 2025

Ira! e o Rock de Esquerda

Este recente episódio que aconteceu com o Ira!, por causa do preconceito de Nasi a quem pensa diferente dos integrantes da banda, é um bom motivo pra eu voltar a falar do que já escrevi aqui algumas vezes e até vídeo no YouTube já fiz: rock de esquerda não existe!

O bom é que, por conta do que aconteceu, surge junto um bando de gente que não consegue enxergar o que está bem em frente aos seus narizes. Aliás, segundo me disseram, o apelido Nasi é por causa de seu nariz, mas quem acompanhou o Ira! desde seu início (antes da exclamação), sabe que isso é pura balela e que o apelido vem por conta de seu pavio curto. Até pouco antes de lançar o 1º disco Mudança de Comportamento, o apelido era escrito com a letra “z”, era Nazi, no contexto de abreviação da palavra n@zist@. 

(Quem aí se lembra do episódio na Folha de SP, em 1984, quando Nasi partiu pra cima do jornalista Pepe Escobar?)

“Pobre Paulista” representa muito bem esse momento radical do grupo que se vestia como... bem, deixa pra lá...

Vou ser bem objetivo e claro porque, muitas vezes, nem assim certas pessoas conseguem entender.

Não existe rock em país comunista. Não existe sequer arte autoral em países comunistas. Tudo é o Estado! Na União Soviética, na Alemanha Oriental, na China, na Coreia do Norte, em Cuba, no Vietnã, em Laos existem ou existiram cenas musicais? Existem ou existiram gravadoras e selos independentes? Existe ou existiu mercado fonográfico nesses países? Quais os discos clássicos dos artistas autorais desses países?

Vou listar:  

União Soviética
Alemanha Oriental
China
Coreia do Norte
Cuba
Vietnã

Existe algum álbum de alguma banda ou artista solo que você gosta que seja Live in Russia ou Live in Xangai ou Live em Havana? Chico Buarque, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Daniela Mercury, Gilberto Gil e outros artistas da Turma Rouanet já fizeram shows nesses países?

Os artistas que você gosta são desses países da lista acima ou são, em sua maioria, dos Estados Unidos e Reino Unido? Os artistas que você escuta nas plataformas de música, que você vai aos shows e que você compra camiseta são desses países da lista?

As gravadoras que produzem e distribuem a música que você ama são de gravadoras estatais de países comunistas ou são de gravadoras que estão em países do ocidente liberal capitalista?

A música que você escuta hoje, o rock, o pop e todas as suas vertentes existem graças ao mercado fonográfico dos países comunistas ou graças ao mercado fonográfico que estão nos países do ocidente liberal capitalista?

Se você contratar o Ira! ou qualquer um desses artistas que se dizem comunistas/socialistas e disser a eles que parte do cachê será doado ao MST e que eles ficarão hospedados em um hostel, você acha que eles vão aceitar? Será que no camarim deles basta uma aguinha, um cafezinho passado no coador e uns biscoitos? 

Os vídeos que Nasi, o ex-Nazi, publica nas redes sociais em que ele faz receitas gastronômicas que harmonizam com vinhos que ele indica, e os vídeos onde ele dá sugestão de filmes e séries, você acha que isso é coisa de socialista ou de burguês capitalista?

E os instrumentos e equipamentos? São comprados em lojas estatais de países comunistas ou em lojas do ocidente liberal capitalista? Fender, Gibson, Pearl, Roland, Rickenbacker, Ibanez, Marshall, Ampeg são de onde?

Todos sabem que o mercado fonográfico exerce um capitalismo selvagem e que tudo que gira em torno dele, inclusive ele mesmo, existe graças ao ocidente liberal capitalista. Então por que diabos há artistas e fãs que acham que são comunistas?

O que Nasi fez é completamente coerente com a ideologia que ele admira, pois o comunismo é autoritário, é preconceituoso, é censor e quer a eliminação de quem pensa diferente. Aliás, nada diferente das ditaduras “primas irmãs” do comunismo, digo o nazismo e o fascismo. Inclusive, Lenin e Stalin diziam que o fascismo era o progresso do comunismo marxista, mas tem muita gente que não está preparada para este fato, por exatamente desconhecer os fatos, ou sequer percebê-los. Para quem diz que o nazismo é direita, é só ler o nome do partido e ver a cor predominante de sua bandeira, além de ver o que o ditador de bigodinho fez com os empresários e empreendedores alemães e com quem pensava diferente dele. Essas ditaduras todas não gostam de quem pensa diferente.

Se você tem problemas em entender todo esse contexto, então te convido a procurar os bons livros que se baseiam em fatos e documentos, para poder entender a história. Assim você vai parar de abraçar e repercutir a opinião dos outros como se fosse sua (mas isso também é compreensível vindo de quem deseja um Estado que faça tudo pelo cidadão, inclusive pensar por ele).

O pior cego é aquele que não quer ver!

 

PS: O Ira!, por mais que tenha boas composições e bons álbuns, sempre foi uma "filial" do The Jam e extremamente influenciado por The Who, Kinks, Beatles e a cena Sixties! Todos artistas da União Soviética, ops, não, da Inglaterra!