15 de julho de 2025

O Menosprezo Pelo Rock Brasileiro

Não dá pra entender essa urgência do brasileiro em comemorar o tal do Dia Mundial do Rock (13 de julho). O Brasil é, praticamente, o único país que faz isso. O resto do mundo lembra o que foi o Live Aid, as atrações, as músicas, o evento, e só, porque é isso.

Por que será que não existe essa urgência em relação ao rock brasileiro? Muito doido isso!

Som Três, Revista Roll, Revista Bizz, MTV Brasil , 89 FM e Revista 89, Brasil 2000, Rock Press, Kiss FM e mais um monte de mídias segmentadas nunca fizeram nada em relação aos fatos marcantes do rock brasileiro, mas quando chega a hora de comemorar algo que foi elaborado por ingleses e americanos (o Live Aid) e que, em algum momento desse evento alguém comentou muito por cima que aquele dia 13 de julho poderia ser o dia mundial do rock, essa mídia nacional baba e não vê a hora de publicar algo a respeito.

Essa mídia – que me recuso a dizer “especializada” – nunca fala, mostra ou escreve nada sobre os primeiros anos do rock brasileiro, as primeiras décadas, os discos lançados, os primeiros nomes importantes (Bob Bolão, Betinho, Ronnie Cord etc.), as primeiras gravações, as cenas dos anos 1950, 1960, 1970, os principais lançamentos dessas cenas, os principais nomes.

Mas sabe o motivo disso? Eu sei: ninguém tem a mínima noção dos acontecimentos do rock brasileiro. Por isso que me recuso a escrever “imprensa especializada”, exatamente porque ela não sabe nada. Sabe apenas o básico, sabe apenas o que está na mão. Por isso que só comemora efemérides clichês como o nascimento e morte de Raul Seixas, Renato Russo, Chico Science, Chorão...

Isso acontece, também, com os próprios artistas que não tem ideia de nada. Eles só sabem o valor do cachê deles e dos discos que lançaram na carreira, mas sem saber o dia e sequer o mês de lançamento.

É um desprezo gigantesco pela nossa história. Quem faz rock – seja artistas, mídia ou gravadoras – não sabe sequer de 1/5 da história. Nem sabem a data que se comemora o início do rock brasileiro e nem o motivo de existir essa data.

Por volta de 2003 ou 2004, eu cheguei a ser contratado por um empresário para fazer a curadoria de um grande festival que iria acontecer em 2005 exatamente para comemorar os 50 anos de rock brasileiro e que só teria artistas nacionais. O festival iria ter o porte do Rock in Rio e o empresário me procurou porque leu uma reportagem sobre o rock brasileiro que eu havia feito para uma dessas revistas que se achavam especializadas e que nela eu falava sobre a importância do dia 24 de outubro de 1955.

Até hoje, ele foi a única pessoa que vi ter essa visão. Ele investiu mesmo! Me pagou um bom cachê, fez reuniões com empresários de artistas, fez brindes para os possíveis parceiros comerciais para levá-los nas reuniões e investiu firme na ideia até, infelizmente, perceber que ninguém estava nem aí com os 50 anos de rock brasileiro.

Seria um festival 100% nacional e que foi completamente menosprezado por quem poderia ter ajudado a concretizar essa ótima ideia. Tinha até local, planta baixa, desenho e maquete do palco (seria um só) e todos os detalhes necessários. Só faltava o apoio das gravadoras (que ajudariam no contato com os artistas) e do apoio financeiro.

O rock brasileiropassou pelos seus 10, 20, 30, 40, 50 e 60 anos e nunca ninguém comemorou nada em relação a essas datas. Sequer um showzinho na esquina.

Aqui no Brasil se comemora efemérides relacionadas a Beatles, Stones, U2, Nirvana ou qualquer outro artista gringo, mas não se comemora nada a respeito de Celly Campello, Renato e Seus Blue Caps, Módulo 1000, Ave Sangria, Gang 90 & Absurdettes, Paralamas...

Lancei O Calendário do Rock Brasileiro em março deste ano exatamente por causa dessa data redonda. Trata-se do único livro que traz praticamente toda a história desses 70 anos e o livro, até agora, foi menosprezado não só pelos artistas, mas por essa mídia preguiçosa, perdida e sem conhecimento.

Trata-se do primeiro e único livro desse gênero na literatura brasileira e quem deveria tê-lo, não quer saber dele. Agora, ir na minha conta do Instagram roubar as informações que eu publicava em relação as datas, todo mundo ia. Porém, publicavam sem os devidos créditos – inclusive artistas que são meus amigos. Foi por esse motivo que parei de publicar datas.

Muito estranho esse desprezo pela nossa história. Por outro lado, esse desprezo é natural, já que desprezamos tudo o que tem relação com nossa história, independente da área.

Em 2025 comemoramos 70 anos de rock brasileiro em 24 de outubro e até agora, nenhuma dessas mídias segmentadas falou sobre isso e, pelo jeito, nem vai falar.

Brasileiro é um povo preguiçoso e acomodado.

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Tenho apenas mais 10 exemplares da pequena tiragem que fiz do O Calendário do Rock Brasileiro. Quem tiver interesse em adquiri-lo, deve enviar e-mail para:

calendariodorockbr@gmail.com

O valor é R$100,00 + R$15,00 (envio)

Faço pacote com O Calendário do Rock Brasileiro + O Diário da Turma 1976-1986 que sai por:

R$100,00 + R$50,00 + R$15,00 (envio) 



3 de julho de 2025

Jornalismo Preguiçoso

Em março lancei, de forma discreta e independente, o meu 2º livro chamado O Calendário do Rock Brasileiro e, por sugestão de um amigo, contratei uma assessoria para me dar um apoio na imprensa. Eu nem tinha pensado nisso! 

A assessoria foi voltada para o segmento rock e pouco mais de 250 jornalistas sites / blogs / contas / perfis receberam o release do livro já escrito no formato de reportagem (algo que hoje é comum).  

De todo mundo que recebeu o release, apenas 5 jornalistas sites / blogs / contas / perfis tiveram a proatividade de querer saber mais sobre este que é o 1º livro do gênero na literatura brasileira: 

- Bacurau Web Rádio 
- Enciclopédia do Rock 
- Ethnos Rock 
- Angelo’s Gallery 
- Rádio Cultura 

245 mídias apenas publicaram o release, sem querer saber de mais detalhes, ou seja, não fizeram o trabalho correto de jornalismo. Este é o 1º livro deste gênero na literatura brasileira. Só isso. 

Repare que, dos 5 nomes, 4 deles são mídias independentes. Da chamada mídia mainstream, só a fabulosa Rádio Cultura, se interessou por mais informação. Não à toa tem em seu nome “cultura”. 

As tais rádios de rock não deram a mínima, inclusive nem adquiriram o livro. Na mídia impressa de grande alcance, o mesmo desdém. Até entreguei, a contragosto, um exemplar para um editor de um grande jornal de São Paulo, mas já sabendo que o fofinho apenas queria o livro pra ele e não para fazer uma resenha. Sou veterano.... além do quê, este mesmo jornal já havia me sacaneado outras duas vezes.  

(Nenhum artista também se interessou pelo livro. Junto a esta informação, é importante dizer que alguns artistas me procuravam pra saber data de lançamentos ou outro acontecimentos, eu dava a informação, mas na publicação não davam crédito. Parei de publicar datas todos os dias também porque muitos desses artistas pegavam a informação, a publicavam sem dar o devido crédito. Agora que o livro está à disposição, nenhum deles quer. Acredite: parei de publicar as efemérides em redes sociais por causa dos próprios artistas.) 

Não é à toa que o jornalismo brasileiro atual está agonizando. Os próprios profissionais sabotam sua área e a qualidade de seu trabalho. 

Vejo hoje o embate “jornalismo maistream X jornalismo independente” da mesma forma como via o embate “gravadoras multinacionais X Naspter”: se não houver adaptação, haverá morte.  

Na verdade, parte de nosso jornalismo – o que virou estatal – já morreu há tempos pra muita gente, e ele continua perdido como um rabo de lagartixa desprendido do corpo. 

A preguiça se institucionalizou neste jornalismo comercial, que é a cara dessa nova geração: ele quer que as notícias e os furos caiam no colo sem o mínimo esforço. Esta situação já é bem aparente com o tanto de programas voltados para as rodas de debate, que geram pouquíssimo custo e quase nada de apuração. É a opinião pela opinião. 

O problema é que, do jornalista esperamos jornalismo e não opinião rasa e sem qualquer apuração. Opinião dessa forma, se nivela com a do porteiro do meu prédio ou do padeiro da esquina.  

Isso acontece nas redes sociais quando uma mídia deixa de dar a notícia completa para escrever “leia mais no link”, nos comentários quem complementa a informação é o padeiro, a secretária, o advogado, o engenheiro, a dentista. Ou seja, para o jornalista isso deveria ser o fim, uma completa vergonha. Mas ele não está nem aí... 

É absolutamente cômodo publicar um release que já vem pronto. Só acho que publicar aspas que o próprio autor escreveu como sendo uma fala dita em uma entrevista / conversa é algo que vai além da preguiça: é uma mentira. Eu, como jornalista que sou, me sentiria um tanto incomodado com isso. 

Eu, quando fui editor de música do falecido site tantofaz.net, pedia todas as entrevistas possíveis. Pedia o máximo de detalhes possíveis e que não estavam nos releases - que eram diferentes do de hoje, porque os de antigamente eram feitos para te ajudar a preparar uma pauta, lembrando que qualquer notícia que chega até o jornalista precisa ser investigada. 

Eu queria entrevista, queria cobrir o show, falar com o produtor do disco, dar detalhes das composições, entre outros assuntos. 

Recentemente foi publicada uma história mal contada de uma brasileira de 22 anos que se tornaria astronauta da NASA. Muitas contas replicaram a notícia, incluindo portais de notícias de grupos de comunicação grandes e, depois de alguns dias, um único alguém que resolveu apurar essa história melhor, viu que não era nada disso. 

A preguiça em apurar / investigar uma notícia é a grande prova de que o jornalismo perdeu, por completo, sua função. Jornalismo é investigação.  

Mas este é só um de dezenas de exemplos do tanto de notícias que saem e que os “profissionais” compartilham sem ir atrás de qualquer outra informação complementar

O jogador Diogo Jota faleceu em um acidente de carro, junto com seu irmão, em 2 de julho de 2025 e poucas foram as mídias que deram a notícia completa porque, na verdade, todas elas esperam alguém apurar e publicar mais detalhes para daí sim todas elas fazerem o famoso “copia e cola” (copy paste).  

Há uma comodidade absurda nessas mídias tradicionais. O que se vê é que todas elas esperam as notícias caírem no colo, como já disse. Como é o caso do lançamento do meu livro. 

Autoridades públicas estão em Portugal neste momento usando dinheiro público para participar de um evento privado, e não há sequer um repórter ou qualquer outro profissional da mídia cobrindo o evento. 

O time do São Paulo trocou de técnico no meio do campeonato mundial de clubes, e ninguém foi atrás de uma entrevista, além da coletiva protocolar. 

Há atualmente muitos avanços na medicina, incluindo aí possíveis curas de doenças até então incuráveis. Veja se há alguma mídia interessada em saber mais sobre esses avanços e sobre o que será da medicina com a tecnologia dos laboratórios misturada com a Inteligência Artificial. 

Não há mais ninguém pensando em boas pautas, em como achar notícias ao invés de esperar por elas embaixo da coberta. 

É lamentável essa preguiça de pré-adolescente que tomou conta do jornalismo de uma forma geral. Inclusive do jornalismo independente que, até onde sei, veio exatamente para ser a alternativa para esse jornalismo mainstream que se tornou um braço estatal e parceiro de quem lhe entrega regalias e um bom “tchules” em forma de publicidade. 

Por causa de nossa péssima educação base, a qualidade de qualquer área profissional no Brasil caiu vertiginosamente: jornalismo, medicina, direito, publicidade, marketing, pedagogia... seja humanas, exatas ou biológicas, está tudo se encaminhando para o nível mais baixo de conhecimento e profissionalismo. Os índices nacionais e internacionais de educação comprovam isso (inclusive o Governo atual colocou sob sigilo o resultado de algumas avaliações de programas federais de educação). 

Estamos caminhando a passos largos para depender cada vez mais da Inteligência Artificial, porque a humana está definhando a olhos nus. 

 

PS: Ah! E meu livro O Calendário do Rock Brasileiro, que é um puuuuta de um documento histórico para a cultura brasileira - mesmo que segmentada - mas que não interessa a nenhuma mídia que se diz especializada em música, continua a venda e, sem apoio até para distribuí-lo, sou eu mesmo quem faço as vendagens, humildemente, através do e-mail: calendariodorockbr@gmail.com 

São R$100,00 + R$ 15,00 (envio) 

Caso queira a 2ª edição do O Diário da Turma 1976-1986: A História do Rock de Brasília, só acrescentar mais R$50,00. 

Calendário + O Diário = R$150,00 + R$15,00 

Restam menos de 20 exemplares do Calendário (isso em 03/07/2025)